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Medicamentos para o tratamento do colesterol elevado
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O colesterol é um lípido (gordura), componente natural do sangue, que é importante para o normal funcionamento do organismo. Para os níveis de colesterol contribui tanto aquele que é produzido internamente, como o que provém da dieta (presente na carne, nos ovos e nos produtos lácteos, por exemplo). Quando em níveis elevados, o colesterol constitui um fator de risco importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, com consequências potencialmente graves. Neste caso, estamos perante uma condição denominada hipercolesterolemia, ou colesterol sanguíneo elevado. A hiperlipidemia designa a elevação dos lípidos no sangue, englobando o colesterol e os triglicéridos, outro tipo de lípidos.
Para qualquer pessoa com hipercolesterolemia, é recomendado que se implemente um estilo de vida saudável, através de medidas como:
- Adoção de uma alimentação saudável;
- Prática regular de exercício físico;
- Controlo do peso;
- Cessação do consumo de tabaco e de álcool.
- Estas medidas podem, no entanto, ser insuficientes para que se atinjam os níveis de colesterol saudáveis. Por vezes é necessário aliar a toma de um medicamento (ou combinação de medicamentos) para controlar eficazmente os seus níveis de colesterol no sangue.
Em que consiste o tratamento farmacológico do colesterol elevado?
O principal objetivo dos medicamentos usados no tratamento do colesterol elevado –antidislipidémicos – é reduzir ou controlar os seus níveis de colesterol LDL (conhecido como "mau colesterol”), para minimizar o risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
Existem vários grupos de medicamentos destinados ao controlo dos níveis de colesterol no sangue. Cada um deles difere quanto ao modo de funcionamento, à percentagem de redução dos níveis de LDL e aos efeitos indesejáveis que lhes são característicos.
As estatinas são o grupo de medicamentos mais prescrito para reduzir o colesterol e, atualmente, o mais eficaz. Estas diminuem a produção natural de colesterol e promovem a sua eliminação pelo fígado. As estatinas atualmente disponíveis incluem a sinvastatina, a lovastatina, a fluvastatina, a pravastatina, a atorvastatina, a pitavastatina e a rosuvastatina. Cada uma destas permite atingir diferentes valores-alvo de colesterol LDL no sangue; esta redução pode variar entre os 30 e 50%, consoante a estatina e a dose selecionadas. Este grupo de fármacos apresenta ainda uma capacidade moderada de reduzir os níveis de triglicéridos.
Apesar de serem geralmente bem toleradas, a toma de estatinas pode estar associada a alguns efeitos indesejáveis como problemas gastrointestinais, dores de cabeça e fraqueza. A dor muscular é outro efeito adverso comum, o qual é dependente da dose e é reversível. O risco de desenvolver reações adversas musculares mais graves é raro e pode estar relacionado com a sua predisposição genética, pelo que é importante conhecer os seus antecedentes familiares.
Fale com o seu médico ou farmacêutico se experienciar algum efeito indesejável. Por vezes, para contornar este problema basta alterar a estatina que está a tomar ou ajustar a sua dose. Se, devido à sua condição clínica, as estatinas estejam contraindicadas, ou lhe provoquem efeitos adversos que não consiga tolerar, pode ser necessário recorrer a medicamentos alternativos, como os que são seguidamente referidos. Adicionalmente, estes podem também ser prescritos pelo seu médico se não atingir os valores esperados e são tomados isoladamente ou em combinação com as estatinas.
Os inibidores da absorção do colesterol diminuem a quantidade de colesterol que é absorvida pelo intestino. A ezetimiba é um exemplo de fármaco pertencente a este grupo. Os efeitos indesejáveis mais comuns associados à toma de ezetimiba incluem dor de cabeça, diarreia, cansaço e dor abdominal.
Os sequestradores dos ácidos biliares reduzem a quantidade de colesterol absorvida a partir dos alimentos. A colestiramina e o colessevelam (não comercializado em Portugal) são exemplos de fármacos deste grupo. Além de indisposição, alguns efeitos indesejáveis incluem náuseas, flatulência e obstipação.
Os inibidores da PCSK9 bloqueiam uma proteína chamada PCSK9, o que ajuda o fígado a eliminar o colesterol do sangue. Exemplos deste grupo de fármacos incluem o evolocumab e o alirocumab (não comercializado em Portugal) e o seu uso está reservado para condições clínicas específicas. Por serem administrados pela via injetável, os principais efeitos indesejáveis verificam-se essencialmente ao nível do local da injeção.
O ácido bempedoico é o medicamento mais recentemente aprovado para a redução dos níveis de colesterol e atua de forma semelhante às estatinas, inibindo a produção de colesterol no organismo. Algumas das suas reações adversas incluem aumento do risco de gota, anemia, dor nas extremidades, cálculos da vesícula e aumento ligeiro nos valores das análises que avaliam o fígado.
Existem outros fármacos – os fibratos – que são prescritos quando existe elevação dos triglicéridos. Medicamentos como o fenofibrato, gemfibrozil, bezafibrato e o ciprofibrato (não comercializado em Portugal) pertencem a este grupo. Por terem um efeito limitado sobre os níveis de LDL, não são habitualmente utilizados para tratar elevações do colesterol. Porém, podem ser associados a uma estatina se esta não for suficiente para controlar adequadamente os níveis de colesterol, e caso exista em simultâneo uma elevação dos níveis de triglicéridos. Nesta situação, podem também ser uma alternativa nos casos em que as estatinas não são adequadas (contraindicação ou intolerância).
Nunca se esqueça: os medicamentos que reduzem o colesterol têm uma eficácia superior quando são combinados com uma dieta pobre em gorduras e com a prática regular de exercício físico!
Como saber qual o medicamento mais adequado para mim?
O seu médico irá avaliar qual é o medicamento que melhor se adequa a si com base nos seus níveis atuais de colesterol LDL e no seu risco de desenvolver uma doença cardiovascular. Este, por sua vez, baseia-se em fatores como:
- Níveis de colesterol total;
- Pressão arterial;
- Idade e género;
- Hábitos tabágicos;
- Ocorrência de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares;
- Outros problemas de saúde como diabetes e doença renal;
- Estilo de vida (atividade física, peso corporal, circunferência da cintura, consumo de álcool).
Após a avaliação do risco que apresenta, são definidas as medidas para a sua gestão e os objetivos do tratamento. Cada fármaco tem uma potência diferente e, portanto, permite que se alcancem níveis de redução do colesterol LDL distintos. A sua situação clínica, outros medicamentos que tome, eventuais efeitos adversos que manifeste com a medicação e o custo são fatores que determinam igualmente a escolha final do fármaco e da respetiva dosagem.
Posso parar de tomar os medicamentos para baixar o colesterol se os meus valores normalizarem?
- Os medicamentos para reduzir o colesterol têm a capacidade de controlar os seus níveis, mas não são um tratamento curativo. Por isso, podem ter de ser tomados durante toda a vida, ou durante o tempo indicado pelo seu médico. Se parar de tomar a medicação, os seus níveis de colesterol irão, muito possivelmente, voltar a aumentar, com potenciais consequências graves para a sua saúde. Além disso, o risco de vir a ter um problema cardiovascular aumenta com a idade e os antidislipidémicos, nomeadamente as estatinas, auxiliam na redução deste risco.
- Controlar regularmente os níveis de colesterol é essencial para assegurar que os mantém dentro de um intervalo saudável. É recomendado que os seus níveis de LDL sejam avaliados 4 a 6 semanas após ter iniciado (ou alterado) o tratamento para reduzir o colesterol. Após alcançar os níveis desejáveis, poderá ser necessário efetuar uma monitorização anual caso o seu risco cardiovascular seja elevado.
- Tome o seu medicamento, ou combinação de medicamentos, exatamente como lhe foi prescrito para potenciar a sua eficácia e atingir os valores de colesterol recomendados para si. Informe sempre o seu médico ou farmacêutico de todos os medicamentos que se encontra a tomar, incluindo, os suplementos alimentares ou produtos à base de plantas para reduzir o colesterol. Muitas vezes, pode existir interação entre medicamentos ou suplementos com os antidislipidémicos (designadamente as estatinas), reduzindo a sua eficácia ou aumentando o risco de desenvolver reações adversas.
