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Bastonária antevê desafios futuros do SNS

31 Outubro 2019
Bastonária antevê desafios futuros do SNS
Os farmacêuticos portugueses assinalaram hoje, no Porto, os 40 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS). O evento organizado pela Ordem dos Farmacêuticos (OF), em parceria com as associações profissionais de farmacêuticos e de representantes dos doentes, juntou mais de uma centena de participantes e personalidades ligadas ao passado, presente e futuro do SNS. “Para os farmacêuticos, celebrar o SNS é projetar o seu futuro com sucesso”, um sucesso que se traduz “em melhores resultados em saúde para os portugueses no século XXI”, destacou a bastonária da OF na abertura da conferência “SNS 40 Anos: Saúde para Todos”.

A iniciativa da OF, em conjunto com a Associação dos Distribuidores Farmacêuticos (Adifa) Associação de Farmacêuticos de Portugal (AFP), Associação Nacional das Farmácias (ANF), Associação Portuguesa de Analistas Clínicos (APAC), Associação Portuguesa de Analistas Clínicos (APAC), Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF), Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF), MAIS PARTICIPAÇÃO melhor saúde e Plataforma Saúde em Diálogo, decorreu no novo edifício da Secção Regional do Norte da OF.

Na abertura do evento, a bastonária, Ana Paula Martins, agradeceu o envolvimento e participação de todos estes parceiros. "Através desta reunião, fomos capazes de reforçar um espaço comum de diálogo, com as associações do sector farmacêutico, com as associações de pessoas que vivem com a doença, com os cuidadores, com as associações de jovens farmacêuticos e estudantes de Farmácia. Queremos agradecer a todos os parceiros que hoje aqui estão, porque são a prova de que é possível idealizar em conjunto, encontrar soluções partilhadas, orientar a ação para resultados concretos que ajudam a transformar um país concreto, feito de pessoas com necessidades concretas, razão de ser de qualquer governação”, realçou a bastonária.

Lembrou ainda os 25 anos da Associação dos Farmacêuticos dos Países de Língua Portuguesa (AFPLP), que esteve reunida na véspera, também no novo edifício da Secção Regional do Norte da OF. "Durante 25 anos sonhámos em conjunto, realizámos em conjunto, criámos uma identidade farmacêutica na lusofonia. Fomos AFPLP antes de sermos CPLP. Liderámos o nosso destino coletivo, prova da nossa maturidade como profissão, num legado de inteligência colaborativa, respeito e afetos. E também hoje aqui assumimos que falar da saúde em Portugal e do seu futuro é uma forma de continuar a construir esta identidade conjunta nos próximos 25 anos”.

Ana Paula Martins reconhece que "a criação do SNS foi efetivamente uma conquista dos portugueses e de lideranças motivadas pelo bem comum, que não hesitaram em eleger a Saúde como uma área de investimento público prioritário”. Para a bastonária, a evolução de alguns indicadores de saúde ao longo destes 40 anos mostram também o desenvolvimento do País. "Esse Portugal já não seria possível hoje porque os portugueses não o aceitariam. Já não é desta saúde que hoje falamos e não podemos continuar a comparar-nos eternamente com o que já não somos”, disse a bastonária.

No entanto, alertou também que alguns portugueses continuam a viver, "na primeira pessoa, situações que já não estão disponíveis para viver, quando aguardam 12 horas numa urgência, quando esperam anos por uma consulta médica da especialidade ou por uma cirurgia, que não têm saúde oral ou apoio na doença mental ou segurança alimentar”.

Apesar de todas as dificuldades, o SNS continua a desempenhar o seu papel de "amortecedor social”, mas em "condições globalmente muito precárias”, não só no que se refere ao financiamento, mas principalmente na "falta de recursos humanos, numa ausência quase total de uma política para as profissões, num desalinhamento entre a missão da governação central e o que deve ser a autonomia e responsabilização nas unidades prestadoras de cuidados de saúde”, destaca a bastonária.

A representante dos farmacêuticos considera ainda que "a governação está muito centralizada no Ministério da Saúde que, Governo após Governo, não consegue implementar as medidas há muito anunciadas, onde responsabilidade e autonomia não são sinónimos, onde as equipas se desfazem porque não há uma estratégia de retenção e valorização do capital humano”.

Ana Paula Martins entende que o SNS se tem de "revitalizar, reorientar, continuar a atrair capital humano de qualidade, orientar-se para a excelência, usar a decisão baseada em factos e libertar-se da discussão exclusivamente ideológica que, no essencial, nem nos divide, apenas confunde o debate que precisamos de ter”.

Para a dirigente da OF, "um SNS forte e moderno integra os recursos e o capital humano disponível (capacidade instalada) e tem como único critério a qualidade e os resultados, opta por modelos flexíveis para concretizar a equidade no acesso, renova formas de financiar para garantir a cobertura universal, promove a transparência na decisão e a pluralidade na participação, como única forma de garantir a solidariedade nas escolhas difíceis que, como sociedade, vamos forçosamente ter de fazer”.

A bastonária apontou quatro desafios fundamentais no desenvolvimento do SNS: demografia, prevenção, multimorbilidade, inovação tecnológica. "Qualquer destes desafios representa enormes oportunidades”, considera. "Porque nos permite ver a saúde como um investimento que cria valor, que transforma a sociedade, ao invés de uma área exclusivamente assistencial, sanitária ou até de proteção social (que não deixa de ser)”, explicou.

Para a bastonária, não há outra opção: "temos mesmo de nos conseguir organizar, para responder às necessidades que os cidadãos e as pessoas que vivem com a doença, seus familiares e cuidadores, têm hoje e terão no futuro. Temos de encontrar novas proximidades, gerir a complexidade emergente de riscos evitáveis, as novas epidemias, os desafios da sustentabilidade, a incorporação racional e ética da inovação tecnológica e terapêutica, o digital, as inúmeras possibilidades que a inteligência artificial e a ´omnicas´ nos abrem, um sem número de realidades já presentes no nosso quotidiano e que o nosso admirável mundo novo anuncia”.

Apesar de toda a evolução científica e tecnológica na prestação de cuidados de saúde, Ana Paula Martins reforça o apelo à humanização dos cuidados. "O SNS dos próximos 40 anos será forçosamente diferente, porque vai responder a novas realidades. A gerações diferentes. Muito mais próximo e sobretudo mais desmaterializado, à distância de uma app. Mas onde será cada vez mais necessária a relação humana, a afirmação dos afetos, a assumida compaixão”, concluiu.