A Sociedade Farmacêutica Lusitana (SFL), de que a Ordem dos
Farmacêuticos (OF) é legítima continuadora, foi criada em 1835, na Botica do
Hospital de São José, em Lisboa. Nos seus primeiros anos de atividade esteve
sedeada no Convento dos Carmelitas Descalços – atual Quartel da Graça. Mudou-se
depois para o Convento de São João Nepumoceno e daí para o Recolhimento da
Mouraria. Até final do século XIX passou ainda por várias casas alugadas, a
última das quais no n.º 234 da Rua dos Fanqueiros, mas esta frequente mudança
de instalações até ao início do século passado fez nascer o desejo de os farmacêuticos adquirirem uma casa própria.
Assim, em janeiro de 1900, anunciava-se a
instalação da SFL em casa própria para janeiro do ano seguinte. Do
relatório apresentado pela "Comissão da Casa", ressalta a proposta de emissão
de 8.000$00 em obrigações de 10$00 para financiamento da sua aquisição. Apesar da receita ter ficado aquém das
expectativas, a Comissão não vacilou, prosseguiu o caminho e propôs a compra de um terreno de 444,5 m2, a 3$60/m2, tendo entregado a construção do novo
edifício à Companhia de Crédito Edificadora Portuguesa, pela quantia de 7.339$00. Deste modo,
em fevereiro de 1901, a SFL inaugurava finalmente a sua sede, que lhe custara a
importância de 9.503$39.
A sede da OF localiza-se numa zona de Lisboa, entre o
Marquês de Pombal e o Campo dos Mártires da Pátria, hoje considerada antiga e
que ainda possui numerosos edifícios centenários em razoável estado de conservação.
Situa‑se
no gaveto formado pela Rua Bernardim Ribeiro e pela outrora designada Rua n.º 4
do Bairro Camões, que, com a construção do edifício sede da OF, passou a
denominar‑se Rua da Sociedade Farmacêutica, traduzindo, deste
modo, o reconhecimento do município de Lisboa pelos relevantes serviços
prestados pela SFL.
O local é de fácil acesso viário e pedonal, mas apresenta
grande dificuldade de parqueamento em superfície. A zona está bem servida de
transportes públicos, embora a distância a pé da estação do metropolitano mais
próxima seja significativa.
O imóvel dispunha inicialmente de dois pisos com uma área
bruta de construção diferente, sendo superior a do segundo piso, o que se
explica devido à forte inclinação da Rua Bernardim Ribeiro. Como era característico
nas construções da época, a sua estrutura apresenta-se em
alvenaria de pedra e elementos de madeira, nomeadamente na constituição dos
pavimentos e estrutura da cobertura.
Embora as linhas arquitetónicas do edifício sejam de grande
simplicidade, o interior apresenta alguns elementos decorativos de grande
beleza e riqueza para a história da profissão, como os tetos e mobiliário do Salão Nobre, da Biblioteca ou do Gabinete
do Bastonário. Destacam‑se ainda o vitral ricamente
policromado com o símbolo da Farmácia, que está colocado sobre a entrada e o
painel de azulejos que representa uma gravura clássica do alquimista, com uma
majestosa cercadura barroca. Ambos foram colocados em 1927, por altura do 1.º
Congresso Nacional de Farmácia.
Com o passar dos anos, e com mais evidência a partir da
década de 60 do século passado, começou a tornar‑se notório o estado de degradação
a que o velho imóvel chegara. Além do aspeto nada condizente com o mínimo de
dignidade exigível para a importância e significado de uma Ordem profissional,
estavam ainda em causa aspetos relacionados com a insuficiência e
funcionalidade dos serviços administrativos, bem como da própria segurança do
edifício, que apresentava já indícios de ameaça de ruína.
No início dos anos 80, a Direção da Ordem então eleita,
liderada pelo bastonário Alfredo Albuquerque (1982-1989), decidiu proceder não apenas a obras de
conservação e de reforço da segurança, como também de beneficiação das
instalações existentes, por via de um aumento da área disponível, obtida com o
desaterro do rés‑do‑chão. Esta obra, que permitiu
aumentar cerca de 200m2 de área utilizável, veio valorizar extraordinariamente
o imóvel e ajudar a resolver os sérios problemas de índole administrativa que
então existiam. Com esta ampliação, o edifício da sede ficou com uma
área bruta de construção de 808m2.
Um década mais tarde, surgiu a possibilidade de se
adquirir o prédio contíguo às instalações da sede histórica da Ordem. Tratava‑se
de um edifício bastante degradado, com uma área total de 142m2 – correspondente
a uma área coberta de 112m2 e a um logradouro de 30m2 –, que oferecia uma
oportunidade única de ampliação da sede. Esta área, acrescida às instalações da
sede, fazia elevar a superfície total edificável para 657m2.
Uma comissão então nomeada levou a cabo a angariação de fundos e apoios junto das empresas e profissionais farmacêuticos, reunindo-se assim condições para a celebração do ato oficial de escritura de compra e venda, realizado na sede da
Ordem, na presença do então bastonário, Carlos Silveira, e da presidente
da Secção Regional de Lisboa, Clara Carneiro.
Embora este projeto pioneiro, que tinha por base um regime
de co‑propriedade com outras organizações farmacêuticas, não
tivesse reunido as condições necessárias para ser posto em prática, tendo sido
rejeitado em Assembleia Geral, a verdade é que durante muito tempo se procurou
encontrar uma solução para a construção de novas instalações no mesmo local, de
propriedade exclusiva da OF.
A concretização da obra – que passava pelo aproveitamento e
e/ou demolição do atual imóvel e a construção de um novo edifício com
aproveitamento do espaço entretanto adquirido – revelou‑se sempre um projeto de
difícil execução. Além dos aspetos técnicos relacionados com a execução da obra e o seu financiamento,
havia que transferir provisoriamente os serviços da Ordem para
outro local. Infelizmente, circunstâncias várias fizeram com que o projeto fosse sucessivamente adiado e, assim, o prédio contíguo adquirido continuou a degradar‑se, sem que tivesse qualquer serventia digna de registo para a Ordem.
Os constrangimentos relacionados com a sede histórica da OF mantiveram‑se então até aos dias de hoje. Apesar dos aspetos históricos e sentimentais evocados por
muitos farmacêuticos para que a OF permanecesse no edifício centenário que
ocupa, vários grupos de trabalho nomeados pelos bastonários João Silveira (1998), José Aranda da Silva (2001) e Carlos Maurício Barbosa (2010) foram incumbidos de estudar e propor soluções alternativas e sustentáveis para acolher a casa dos farmacêuticos.
Foi neste contexto que os farmacêuticos aprovaram a aquisição dos imóveis no Parque das Nações, em 2005, e na Av. Almirante Gago Coutinho, em 2009, ambos alienados posteriormente, também por decisão da Assembleia Geral, tendo em vista a concretização de um projeto que mantivesse a OF na Rua da Sociedade Farmacêutica e permitisse a reabilitação e integração dos dois edifícios como sedes da Direção Nacional e da da Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas (SRSRA-OF).
Os estudos técnicos para a preparação de um projeto de recuperação do edifício da Rua Bernardim Ribeiro iniciaram-se em 2014, durante o mandato de Ema Paulino, como presidente da SRSRA-OF. Com a eleição da bastonária Ana Paula Martins, em 2016, os trabalhos são alargados e aprofundados para uma empreitada de reedificação de ambos os antigos edifícios, sendo nesse mesmo ano publicado o Concurso Público de Conceção do Projeto de Arquitetura, do qual viria a resultar no projeto arquitetónico hoje conhecido e aprovado pelos farmacêuticos em sede de Assembleia Geral.