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A aplicação de colírios pode causar efeitos sistémicos?

  • Breves Questões Terapêuticas
20 Abril 2021
A aplicação de colírios pode causar efeitos sistémicos?


  • Apenas uma pequena proporção da dose de colírio aplicada é retida no olho.
  • A absorção sistémica pode ser significativa e alguns colírios podem causar reações adversas sistémicas. 
  • Para redução da absorção sistémica após a instilação do colírio, têm sido propostas algumas medidas como: manter as pálpebras fechadas suavemente; aplicar uma ligeira pressão no ponto lacrimal com um dedo limpo; esperar 5 a 10 minutos entre a aplicação de dois colírios no mesmo olho. 


Na terapêutica ocular tópica são aplicadas altas concentrações de fármaco num pequeno volume (uma gota). Estima-se que apenas 5 a 10 % do fármaco presente num colírio permaneça no olho após a aplicação.1,2 A quantidade depende de fatores como a técnica de administração e as características do colírio,2 (tamanho da gota, veículos, lipofilicidade/hidrofilicidade do fármaco ou a sua concentração na preparação).1 Estima-se que até 80% da quantidade de fármaco aplicada no saco conjuntival possa difundir-se para a circulação sistémica.1-4

O saco conjuntival tem apenas um volume de 10 μl e a maioria das gotas oftálmicas dispensam um volume de 25-50 μl.4 O excesso drena através do conduto nasolacrimal alcançando a cavidade nasal, onde se produz a absorção na mucosa nasofaríngea altamente vascularizada.1-3 Vias menores de absorção são a conjuntiva (especialmente no caso de fármacos hiperémicos), a pele da bochecha e das pálpebras e o humor aquoso.1,4 A extensão da absorção sistémica é muito variável,6 podendo ser absorvidas quantidades consideráveis.5 A absorção sistémica é significativa porque evita o metabolismo hepático de primeira passagem que, geralmente, acontece com a toma oral da medicação.1,2,4

As reações adversas mais comuns dos medicamentos de aplicação oftálmica são locais,3 mas podem causar efeitos sistémicos que,3,5,6 muitas vezes, não são considerados.3 São efeitos infrequentes, mas que em certos casos podem ser importantes.4

As crianças, especialmente as mais novas, as mulheres grávidas e a amamentar e as pessoas idosas precisam de atenção especial em relação ao risco de reações adversas sistémicas com a aplicação de colírios.1,2

Exemplos de reações adversas sistémicas relatadas com a aplicação de colírios:

- O timolol e outros beta bloqueadores, usados para diminuir a pressão intraocular, podem causar efeitos cardiovasculares como bradicardia, hipotensão e broncoconstrição.1 Podem também surgir sintomas neurológicos, psiquiátricos, dermatológicos e digestivos, entre outros.3

- Os corticosteroides, muito raramente, podem causar síndrome de Cushing,2,3 que pode inclui distúrbios psiquiátricos.2 Referida supressão adrenal após administração prolongada, especialmente em crianças.1

Têm sido propostas algumas medidas para reduzir a absorção e minimizar os efeitos indesejáveis sistémicos:

- Manter as pálpebras fechadas suavemente por 2-3 minutos após a instilação,2,4,5 para aumentar a absorção ocular do fármaco.1

- Aplicar uma ligeira pressão no ponto lacrimal (extremo interno do olho) com um dedo limpo durante ao menos 1 minuto após a instilação,1,2,5,6 para reduzir a drenagem nasolacrimal.6 

- Quando precisam de ser aplicados dois colírios diferentes à mesma hora deverá existir um intervalo de pelo menos 5 minutos entre eles.2,6

Estes métodos não impedem completamente a absorção sistémica, pelo devem ser consideradas as contraindicações e precauções do medicamento. Além disso, não eliminam o risco de efeitos não relacionados com a dose, como hipersensibilidade.5

Referências bibliográficas

1. Vaajanen A, Vapaatalo H. A Single Drop in the Eye – Effects on the Whole Body? The Open Ophthalmology Journal. 2017 [acedido a 26-03-21]; 11: 305-314.

https://openophthalmologyjournal.com/VOLUME/11/PAGE/305/FULLTEXT/

2. A drop in the eye has widespread ripples. Prescriber Update. 2019; 40(4): 85–86. [acedido a 26-03-21] Disponível em;

https://www.medsafe.govt.nz/profs/PUArticles/December2019/A-drop-in-the-eye-has-widespread-ripples.htm

3. Reacciones adversas sistémicas con medicamento oftalmológicos. Reacciones Adversas a Medicamentos 2019 [acedido a 26-03-21]; 26(2):1-3. Disponível em:

https://seguridadmedicamento.sanidadmadrid.org/RAM/vol-26/Vol26n2junio2019.pdf

4. Badyal KK, Badyal IS. Adverse reactions to ophthalmic medicines. Adverse Drug Reaction Bulletin. 2017; 307(1): 1187-1190.

5. Farkouh A, Frigo P, Czejka M. Systemic side effects of eye drops: a pharmacokinetic perspective. Clin Ophthalmol. 2016 Dec 7; 10: 2433-2441. doi: 10.2147/OPTH.S118409.

6. British National Formulary Nº 76. London, BMJ Group and Pharmaceutical Press, 2018.