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As formulações de metilfenidato de libertação prolongada são intercambiáveis?
- Breves Questões Terapêuticas

![]() - As formulações de metilfenidato de libertação prolongada apresentam perfis de libertação diferentes. - É fundamental informar o utente sobre as possíveis variações que possam ocorrer na gestão dos sintomas e potenciais efeitos secundários. ![]() |
O
metilfenidato é um fármaco estimulante do sistema nervoso central,1-3
utilizado como parte integrante do tratamento da Perturbação de Hiperatividade
e Défice de Atenção (PHDA) em crianças com idade igual ou superior a 6 anos, e
em adultos.2-4
Atualmente,
existem disponíveis em Portugal diversas formulações de metilfenidato de
libertação prolongada, nomeadamente sob a forma de comprimidos e cápsulas.2,3
Estas são constituídas por um componente de libertação imediata e por um
componente de libertação modificada, o que permite que ocorra a libertação do
fármaco em duas fases1,4-6 possibilitando um início de ação rápido,
seguido de uma libertação prolongada do fármaco, obviando a necessidade de
tomas adicionais durante o dia para a manutenção dos seus efeitos terapêuticos.4,6
Todavia,
os perfis de libertação bifásica das diferentes formulações de libertação
prolongada não são todos equivalentes entre si, uma vez que as diferentes
marcas comercializadas contêm proporções diferentes dos componentes de
libertação imediata e de libertação modificada, o que pode resultar
em efeitos clínicos diferentes para o doente.1,4-6 Apesar de o seu
início de ação ser semelhante em todos os produtos, proporcionando uma
concentração inicial máxima do fármaco cerca de 1 a 2 horas após a sua administração,2,3,5,6
o momento do segundo pico, relacionado com o componente de libertação
modificada, e a duração de ação variam entre formulações.1-3,5
A
título de exemplo, nas formulações de comprimidos de libertação prolongada do
medicamento da marca Concerta®, o metilfenidato contido nas camadas internas do
medicamento é gradualmente libertado ao longo das horas seguintes, após o
primeiro pico, sendo as concentrações plasmáticas máximas obtidas ao fim de
cerca de 6 a 8 horas,2,5,6 após as quais os níveis plasmáticos de
metilfenidato diminuem gradualmente. Esta formulação apresenta uma duração
total de ação de cerca de 12 horas.2,5,6 Por outro lado, o medicamento
Ritalina LA®, cápsulas de libertação modificada, exibe um perfil plasmático de
concentração-tempo bimodal, com dois picos distintos com um intervalo
aproximado de 4 horas entre eles,3,5,6
tendo uma duração total de ação de cerca de 8 horas.5
Os
diferentes perfis temporais de ação fornecidos pelas formulações de
metilfenidato permitem ao clínico selecionar a formulação que atue nos
intervalos específicos do dia que sejam particularmente relevantes para o
utente, otimizando a individualização do tratamento da PHDA,4-6 pelo
que a mudança para outra formulação pode resultar em alterações na gestão dos
sintomas em períodos cruciais do dia.1,4
Poderão
existir situações em que seja estritamente necessário alterar a formulação como,
por exemplo, devido a uma rutura de um medicamento ou ineficácia no controlo
dos sintomas.5 É fundamental que os profissionais de saúde estejam
alertados para estas diferenças, devendo a escolha do medicamento ser feita
após uma cuidadosa avaliação individual, uma vez que, devido a estas
diferenças, a alteração das preparações significa que a dose poderá ter de ser
ajustada para evitar potenciais efeitos de sobredosagem ou subdosagem.1,4,6
É
ainda da máxima relevância, prestar um aconselhamento adequado ao utente,
salientando os cuidados a ter na administração, possíveis alterações que possam
ocorrem na gestão dos sintomas e potenciais efeitos secundários, e como
proceder caso estes ocorram.1,5
Alguns dos efeitos
adversos mais comuns incluem, diminuição do apetite, insónia, alterações na
pressão arterial e na frequência cardíaca.2,3,5 A monitorização
contínua revela-se essencial para todos os doentes, com especial enfâse sempre
que sejam realizadas alterações na medicação.5
Referências bibliográficas:
- Use caution if switching between long-acting methylphenidate products due to formulation diferences. Medsafe: New Zealand Medicines and Medical Devices Safety Authority. Published: 2 March 2023. [acedido a 08-03-24]. Disponível em: https://www.medsafe.govt.nz/profs/PUArticles/March2023/Use-caution-if-switching-between-long-acting-methylphenidate-products.html
- Concerta 18 mg comprimidos de libertação prolongada. Resumo das Características do Medicamento (RCM). INFARMED. [acedido a 08-03-24]. Disponível em: https://extranet.infarmed.pt/INFOMED-fo/
- Ritalina LA 20 mg cápsulas de libertação modificada. Resumo das Características do Medicamento (RCM). INFARMED. [acedido a 08-03-24]. Disponível em: https://extranet.infarmed.pt/INFOMED-fo/
- Methylphenidate long-acting (modified-release) preparations: caution if switching between products due to differences in formulations. Medicines and Healthcare products Regulatory Agency. Published 26 September 2022. [acedido a 08-03-24]. Disponível em: https://www.gov.uk/drug-safety-update/methylphenidate-long-acting-modified-release-preparations-caution-if-switching-between-products-due-to-differences-in-formulations
- Considerations when prescribing modified-release methylphenidate. Specialist Pharmacist Service. Last updated 23 November 2023. [acedido a 08-03-24]. Disponível em: https://www.sps.nhs.uk/articles/considerations-when-prescribing-modified-release-methylphenidate/
- Coghill D, Banaschewski T, Zuddas A, Pelaz A, Gagliano A, Doepfner M. Long-acting methylphenidate formulations in the treatment of attention-deficit/hyperactivity disorder: a systematic review of head-to-head studies. BMC Psychiatry. 2013 Sep 27;13:237. doi: 10.1186/1471-244X-13-237.