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Como mitigar o risco de toxicidade da colquicina?

  • Breves Questões Terapêuticas
21 Julho 2023
Como mitigar o risco de toxicidade da colquicina?

 
  • A colquicina possui uma margem terapêutica estreita, com risco de toxicidade.
  • Doses elevadas, interações medicamentosas e certas características do utente predispõem à sua ocorrência.
  • A minimização do risco assenta numa adequada informação aos utentes sobre o uso correto e os sintomas de alerta.

A colquicina é utilizada desde há muito tempo para tratar exacerbações da gota, ou prevenir a sua ocorrência durante a fase inicial do tratamento hipouricemiante, devido às suas propriedades anti-inflamatórias,1 relacionadas com o seu efeito antimitótico.2,3 Apesar de a escolha terapêutica recair habitualmente nos anti-inflamatórios não esteroides1,3 ou nos corticosteroides,1 a colquicina pode ser uma opção terapêutica importante em caso de ineficácia,3 ou na presença de comorbilidades que desaconselhem a utilização dos anteriores.1,3 Está também indicada na febre mediterrânea familiar,2,4 na doença de Behçet, na pericardite, em doenças dermatológicas e investigada em prevenção cardiovascular secundária.4 

A colquicina tem uma margem terapêutica estreita,1-4 o que resulta num risco significativo de toxicidade.1,4 Esta pode ocorrer em resultado de sobredosagens, erros de medicação,2 ou como consequência de certos fatores, nomeadamente:
  • Diminuição da função renal2-5 e hepática2,4,5 
Predispõem a toxicidade por colquicina,4,5 por diminuição da capacidade de eliminação pelo organismo.

  • Interações medicamentosas1-5 
A colquicina é um substrato da isoenzima 3A4 do citocromo P450 (CYP3A4) e da glicoproteína-P (gp-P).2,4 Assim, o uso concomitante de fármacos inibidores da CYP3A4 e da gp-P pode elevar as concentrações séricas de colquicina e conduzir a toxicidade.1,2,4,5

Entre os fármacos que podem aumentar o risco incluem-se (lista não exaustiva):
  • Antibióticos macrólidos: claritromicina,2,4,5 eritromicina;4,5 
  • Antifúngicos: fluconazol,1,4,5 itraconazol, cetoconazol;4,5 
  • Bloqueadores dos canais do cálcio: diltiazem,1,2,4,5 verapamilo;1,4,5 
  • Imunossupressores: ciclosporina,2,4,5 tacrolímus;4,5 
  • Inibidores da protéase;2,4 
  • Alimentos, como o sumo de toranja.2,4,5 
No caso dos fibratos, como o fenofibrato e o gemfibrozil, e das estatinas,4,5 a toma concomitante acarreta também aumento do risco de miopatia, tal como a ciclosporina, acima referida.4 

  • Idade avançada2-5
Risco aumentado de toxicidade devido à menor capacidade de eliminação da colquicina.4

O primeiro indicador sugestivo de toxicidade é o surgimento de sintomas gastrointestinais, como diarreia, dor abdominal, náuseas e vómitos.1,2,4,5 Estes efeitos, particularmente a diarreia, também podem ocorrer com doses terapêuticas.1

Estes sintomas antecedem o aparecimento de efeitos mais sérios, como miopatia – mialgia e fraqueza muscular, neuropatia – parestesias,4,5 e alterações hematológicas relacionadas com supressão medular – leucopenia, trombocitopenia.1-5 Em casos graves existe progressão para dano renal e hepático, arritmias,1,4 insuficiência cardíaca,4 agranulocitose,3 falha multiorgânica,1,2,5 sépsis e morte.1,2 

Em caso de suspeita de toxicidade por colquicina, é necessário um encaminhamento imediato para avaliação hospitalar.1 A toxicidade grave pode ser muito difícil de tratar,4 pois não existe qualquer antídoto específico1,2 e as opções de tratamento são limitadas e de suporte.1 A hemodiálise não é eficaz, uma vez que a colquicina possui uma rápida distribuição, um elevado volume de distribuição,1,4 e significativa ligação às proteínas plasmáticas. Indivíduos com insuficiência renal ou hepática, ou cuja ingestão tenha ocorrido há algum tempo, têm prognóstico menos favorável.1 As concentrações elevadas podem persistir por semanas após a descontinuação do tratamento, resultando em continuação do dano.


Estratégias para minimização do risco
  • A dosagem da colquicina deve ser ajustada em função da idade, da medicação concomitante e da função renal e hepática.2 
  • É fundamental que os utentes recebam instruções claras sobre o modo correto de administração1,2,5 e sobre os sintomas indicativos de toxicidade.3 É especialmente importante especificar a dose máxima diária.1,2 
  • Aconselhar os utentes a interromper o tratamento e consultar o médico se desenvolverem náuseas, vómitos ou diarreia; dor ou fraqueza muscular; dormência ou formigueiros nos dedos das mãos ou pés;1,2,4,5 hemorragia ou hematomas.1,4,5
  • Assegurar que os utentes compreendem que a colquicina não é um analgésico,1,2,5 pelo que não deve ser utilizado para controlar outros tipos de dores.1,5 
  • Informar que o seu efeito terapêutico máximo na gota pode tardar 24-36 horas, ou mesmo mais,2 podendo ser recomendada a toma de um analgésico, como o paracetamol, enquanto a colquicina não produz o seu efeito.5 
  • Reforçar a necessidade de informar o médico ou farmacêutico acerca da medicação que está a tomar, antes de iniciar um novo fármaco.1,5 
  • Manter a colquicina fora do alcance das crianças.2 

No risco associado a interações medicamentosas com inibidores da CYP3A4 ou da gp-P, a abordagem depende da função renal e hepática do utente:
  • Função renal ou hepática normal: caso seja possível, a terapêutica com colquicina deve ser interrompida;4,5 se for necessária a toma simultânea, a dose da colquicina deve ser reduzida1,2,4,5 e o utente monitorizado para sintomas e sinais de toxicidade. 1,2,4
  • Insuficiência renal ou hepática: o uso concomitante está contraindicado.1,4,5 


Referências bibliográficas

1. Safer prescribing of high-risk medicines: Colchicine – extremely toxic in overdose. Best Practice Journal. 2014 [acedido a 27-04-2023]; (63): 58-60. Disponível em: https://bpac.org.nz/BPJ/2014/september/docs/BPJ63-safer-prescribing.pdf
2. Li D. Colchicine Toxicity: What Pharmacists Need To Know. The Tablet BC Pharmacy Association. August 17, 2017; Updated on September 15, 2017 [acedido a 27-04-2023]. Disponível em: https://www.bcpharmacy.ca/news/colchicine-toxicity-what-pharmacists-need-know
3. Colchicine: posologies précisées pour ce médicament à risque d’intoxications graves. Rev Prescr. 2017; 37(402): 257.
4. Hansten PD, Tan MS, Horn JR, Gomez-Lumbreras A, Villa-Zapata L, Boyce RD, et al. Colchicine Drug Interaction Errors and Misunderstandings: Recommendations for Improved Evidence-Based Management. Drug Saf. 2023 Mar; 46(3): 223-242. doi: 10.1007/s40264-022-01265-1.
5. Colchicine for acute gout: updated information about dosing and drug interactions. Radar NPS MedicineWise, 14 May 2010 [acedido a 27-04-2023]. Disponível em: https://www.nps.org.au/radar/articles/colchicine-for-acute-gout-updated-information-about-dosing-and-drug-interactions

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