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Em que consiste o efeito nocebo?

  • Breves Questões Terapêuticas
28 Setembro 2022
Em que consiste o efeito nocebo?
 
  • O efeito nocebo pode conduzir a reações adversas reais, que devem ser reconhecidas e não negligenciadas.
  • As expectativas pessoais e a experiência prévia podem influenciar a adesão à terapêutica e, portanto, os resultados do tratamento.
  • A informação sobre o tratamento deve ser cuidadosamente estruturada para reduzir o risco de efeito nocebo. 

A administração de medicamentos é acompanhada pelo aparecimento de efeitos benéficos e indesejáveis ​​que nem sempre são devidos ao mecanismo farmacológico. Os primeiros são conhecidos como efeito placebo, enquanto os últimos são denominados efeito nocebo.1 Os dois fazem parte de todo o processo terapêutico,1,2 e podem impactar positiva ou negativamente os resultados.2

O efeito nocebo é menos conhecido,3,4 O termo nocebo deriva de o latim "prejudicar".5 Descreve a ocorrência de um resultado negativo produzido por um medicamento ou outro tratamento (redução de eficácia, agravamento dos sintomas ou surgimento de efeitos adversos), experimentado independentemente da ação de um componente ativo.3,5 Efeitos adversos, reais ou percebidos, podem ser induzidos pela administração de uma substância farmacologicamente inerte,2 contudo, o efeito nocebo também pode ocorrer em tratamentos com substâncias ativas.1,2 Muitas vezes, são efeitos clinicamente diagnosticáveis.5

Um exemplo do efeito nocebo são os efeitos adversos experimentados por participantes em ensaios clínicos que não recebem tratamento ativo, mas são informados sobre os possíveis efeitos colaterais. Em ocasiões, podem ter os mesmos efeitos apenas porque os esperam.  

Vários estudos mostraram aumento nas notificações de efeitos adversos de medicamentos quando são divulgados alertas sobre a sua segurança nos meios de comunicação, o que pode afetar as expectativas das pessoas sobre o tratamento.5,6

Algumas pessoas experimentam maiores efeitos adversos com medicamentos genéricos.2,5 O ceticismo em relação a estes medicamentos pode ser a causa dos efeitos que algumas pessoas sentem ao mudar de um produto "de marca” para um genérico.5 A mudança pode associar-se à diminuição de eficácia ou aumento de efeitos adversos, apesar dos medicamentos terem garantias de qualidade.6 A perceção em relação ao custo (acreditar que os genéricos por serem mais baratos são menos eficazes) também pode potenciar o efeito nocebo.5 A falta de conhecimentos e perceções erróneas sobre os medicamentos biossimilares também podem desencadear um efeito nocebo quando se muda de um medicamento biológico de referência para um biossimilar.2,5

Os mecanismos que explicam este efeito não são bem conhecidos.6 Estre os mais estudados estão os relacionados com as expectativas negativas da pessoa em relação ao tratamento3,6 e a sua experiência anterior (por exemplo, uma reação adversa ao medicamento associa-se a uma maior probabilidade de experimentar resultados negativos em tratamentos subsequentes).3  O efeito nocebo resulta da interação entre as características da pessoa e o seu contexto,6 a relação com os profissionais de saúde e a forma como a informação é proporcionada e recebida.3,6 Podem ser geradas expectativas negativas simplesmente pela leitura do folheto informativo ou do consentimento informado.2,6  

Mulheres, pessoas com ansiedade ou depressão, ou com uma personalidade pessimista, poderiam ter um maior risco de desenvolver este efeito.5,6

O efeito nocebo tem uma particular importância na adesão ao tratamento e, por isso, nos resultados.2,4,6 Os efeitos adversos relacionados com este efeito devem ser reconhecidos e não negligenciados, pois podem conduzir à descontinuação de terapêuticas apropriadas, ou ao uso de medicação adicional.4

Como minimizar o efeito nocebo

Os profissionais de saúde devem saber reconhecer o efeito nocebo e estar cientes da sua capacidade para o minimizar,2 mas também de que o podem induzir involuntariamente ao comunicar com as pessoas.6 O efeito nocebo pode ser minimizado com um bom equilíbrio entre a informação sobre os efeitos positivos e negativos dos tratamentos,5 colocando a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos no contexto do benefício do tratamento (enquadramento positivo).2,3 Deve ser proporcionada informação suficiente, confirmando se existem dúvidas.5


Referências bibliográficas


1. Ferreres J, Baños JE, Farré M. Efecto nocebo: la otra cara del placebo. Medicina Clínica. 2004 [acedido a 12-08-22]; 122(13): 511-16. Disponível em: https://www.elsevier.es/es-revista-medicina-clinica-2-articulo-efecto-nocebo-otra-cara-del-13060185
2. Diego L, Robert L. Efecto placebo y nocebo: Cómo utilizar el efecto placebo y evitar el efecto nocebo para optimizar el tratamiento en la práctica clínica. BIT. 2019 [acedido a 12-08-22]; 30(10: 55-60. Disponível em: https://scientiasalut.gencat.cat/bitstream/handle/11351/5067/BIT_2019_30_10_cas.pdf?sequence=2&isAllowed=y
3. The nocebo effect: what is it, why is it important and how can it be reduced? Best Practice Advocacy Centre New Zealand. Published: August 2019. [acedido a 12-08-22] Disponível em: https://bpac.org.nz/2019/docs/nocebo.pdf 
4. Planès S, Villier C, Mallaret M. The nocebo effect of drugs. Pharmacol Res Perspect. 2016 Mar 17; 4(2): e00208. doi: 10.1002/prp2.208.  
5. The nocebo Effect. Prescriber Update.2019 [acedido a 12-08-22]; 40(1): 14-15. Disponível em: https://medsafe.govt.nz/profs/PUArticles/March2019/The%20nocebo%20effect.htm
6. Madridejos R, Diego L. Efecto nocebo. FMC. 2019 [acedido a 1-09-22]; 26(3):158-62. Disponível em: https://www.fmc.es/es-efecto-nocebo-articulo-S1134207219300180


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