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Fotoproteção. Usufruir do sol, evitando os seus riscos
01 Agosto 2018
A exposição solar, por si própria, não é prejudicial; contudo, é necessário cuidado, para receber os benefícios e evitar os riscos.
A radiação solar é reconhecidamente essencial a muitas funções biológicas.1,2 Contudo, pode causar diversas patologias, especialmente a porção do espetro que corresponde à radiação ultravioleta (UV).1 Esta apresenta diferentes propriedades, de acordo com o comprimento de onda, podendo ser subdividida em radiação UV de tipo A, de tipo B e de tipo C.1-3
Efeitos da exposição solar
Efeitos da exposição solar
A exposição solar, por si própria, não é prejudicial; contudo, é necessário cuidado, para receber os benefícios e evitar os riscos de uma exposição excessiva.4
Em indivíduos saudáveis, a exposição à luz solar aumenta a pigmentação cutânea. O bronzeado é um mecanismo adaptativo para proteger a pele da radiação UV1,2,4 e a capacidade de bronzeamento é determinada geneticamente. A maior proteção é, contudo, proporcionada pelo espessamento da epiderme.
Grupos de doentes que estão em maior risco de efeitos adversos da radiação solar incluem: doentes com fotossensibilidade, hipopigmentação (p. ex. vitiligo) e os doentes transplantados tratados com imunossupressores (que apresentam risco aumentado de desenvolverem cancro cutâneo).1
Em indivíduos saudáveis, a exposição à luz solar aumenta a pigmentação cutânea. O bronzeado é um mecanismo adaptativo para proteger a pele da radiação UV1,2,4 e a capacidade de bronzeamento é determinada geneticamente. A maior proteção é, contudo, proporcionada pelo espessamento da epiderme.
Grupos de doentes que estão em maior risco de efeitos adversos da radiação solar incluem: doentes com fotossensibilidade, hipopigmentação (p. ex. vitiligo) e os doentes transplantados tratados com imunossupressores (que apresentam risco aumentado de desenvolverem cancro cutâneo).1
Efeitos a curto prazo
Os efeitos mais imediatos da exposição solar manifestam-se sob a forma de eritema e queimaduras,1,2 que constituem uma resposta inflamatória ao dano causado pela radiação UV.1 Em indivíduos afetados por fotodermatoses podem também surgir reações agudas.2
Existem ainda reações de fotossensibilidade causadas por fármacos, podendo ser reações fotoalérgicas ou fototóxicas,1 estas últimas mais comuns.1,5 Caraterizam-se por erupções cutâneas em áreas expostas ao sol e resultam de uma reação tóxica ou alérgica entre os fármacos e a radiação UV, principalmente UVA.2,5
Existem ainda reações de fotossensibilidade causadas por fármacos, podendo ser reações fotoalérgicas ou fototóxicas,1 estas últimas mais comuns.1,5 Caraterizam-se por erupções cutâneas em áreas expostas ao sol e resultam de uma reação tóxica ou alérgica entre os fármacos e a radiação UV, principalmente UVA.2,5
Efeitos a longo prazo
Os efeitos das radiações UV são cumulativos e progressivos. A exposição crónica excessiva desencadeia alterações da regulação celular4 e acelera a degeneração da estrutura e função da pele – fotoenvelhecimento.1,2,4,6 Este carateriza-se pelo aparecimento de rugas, secura, hiperqueratose, pigmentação irregular, telangiectasia e perda de elasticidade.1,2,6
A exposição solar excessiva e continuada pode também causar imunossupressão e queratoses actínicas – que são fatores de risco, ou lesões precursoras, de cancros cutâneos.1,2,5
Os diferentes tipos de radiação UV estão associados a efeitos biológicos distintos:
A exposição solar excessiva e continuada pode também causar imunossupressão e queratoses actínicas – que são fatores de risco, ou lesões precursoras, de cancros cutâneos.1,2,5
Os diferentes tipos de radiação UV estão associados a efeitos biológicos distintos:
- A radiação UVA consegue penetrar a derme,2,3,7 produzindo bronzeamento imediato da pele com escasso eritema. Contribui para os efeitos a longo prazo,1 podendo causar dano direto e indireto ao ADN por geração de radicais livres, fotoenvelhecimento, imunossupressão e fotocarcinogénese.2,3 Está ainda associada a reações fototóxicas e fotoalérgicas.2,5
- A radiação UVB é maioritariamente absorvida pela epiderme, sendo responsável pelo desenvolvimento de eritema, queimaduras solares1-3,5,7 e por dano direto ao ADN,2,3,5 contribuindo para os efeitos de longo prazo. Também produz bronzeamento por pigmentação indireta.1
- A radiação UVC apresenta fortes propriedades mutagénicas e eritematosas e é absorvida, quase na totalidade, pela camada de ozono da atmosfera.1-3
Cancro cutâneo
O aumento do risco de cancros cutâneos é a consequência mais séria, a longo prazo, da exposição à radiação UV.2,5 Os mais comuns são o carcinoma de células basais (CCB), o carcinoma das células escamosas (CCE) e o melanoma maligno (MM).5
A forma de exposição à radiação UV desempenha um papel significativo no risco de cancro.1,2 O CCE e as queratoses actínicas, suas lesões precursoras, estão relacionados com a exposição solar crónica cumulativa.1 O CCB e o melanoma estão associados a exposição excessiva intermitente em idades precoces,1,2,4 com episódios de queimaduras solares durante a infância e adolescência.1,4,5 O melanoma é mais comum em pele exposta ao sol ocasionalmente e parece ser mais comum em indivíduos que não trabalham ao ar livre. A exposição solar intermitente parece conferir um maior risco de melanoma do que a exposição regular.1
Estratégias de proteção solar
As estratégias de proteção solar recomendadas são:
- Adotar comportamentos responsáveis.
- Utilizar roupa fotoprotetora e óculos de sol.
- Aplicar protetores solares (PS) de largo espetro.2,5
Exposição solar responsável
A intensidade da radiação solar é significativamente influenciada pela altura do dia, estação do ano, condições climatéricas, altitude, latitude, superfícies refletoras, entre outras.5
Adotar comportamentos corretos é a melhor forma de prevenir os danos cutâneos causados pelo sol.6 Estes incluem:
- Iniciar a exposição ao sol de forma gradual2,4 e evitando sempre as horas de intensidade máxima,1,2,4 ou seja, entre as 11 e as 17 horas.8
- Não permanecer ao sol por períodos prolongados e recorrer à sombra para se proteger.1,2,4,6
- Utilizar PS com fator de proteção solar (FPS) adequado ao tipo de pele,4,5,8 de preferência igual ou superior a 30;8 o uso de PS será ainda abordado com maior detalhe.
- Deve existir extrema precaução com a exposição ao sol de crianças pequenas.2,4 As crianças com menos de seis meses não devem ser expostas ao sol,8 recomendando-se o uso de chapéus, roupa protetora e permanecer na sombra, mas não o uso de PS.
- Em crianças mais velhas pode ser aplicado um PS,2,5 preferencialmente com um filtro físico,2 devendo evitar-se a exposição direta de crianças com menos de três anos.8
- Aumentar a ingestão de água4,8 ou de sumos naturais sem açúcar.8
- Evitar expor-se ao sol caso tome medicamentos que possam provocar reações de fotossensibilidade.4
Uso de roupa fotoprotetora
Durante a permanência ao ar livre, devem ser usadas roupas que evitem a exposição direta da pele ao sol, particularmente nas horas de maior incidência solar.8 A roupa proporciona proteção contra os raios UVA e UVB, com a vantagem adicional de não causar alergias nem irritação na pele.2
Nem todos os tecidos proporcionam a mesma proteção face à radiação UV. Os tecidos de malha mais apertada refletem e bloqueiam a radiação de forma mais eficaz,2,9 bem como os tecidos mais espessos.9 O uso de roupas largas proporciona uma melhor proteção solar do que o uso de roupas justas,5,9 e a proteção UV é maior para materiais de cor mais escura, dado que absorvem mais radiação.2,5,9 Existem ainda tecidos tratados com filtros solares.5,9
Os chapéus são um elemento protetor muito importante. Devem possuir uma aba larga,1,2,4-6,8 a 360°,5 de modo a proteger também a face, os olhos,2 o pescoço e as orelhas;4 os que possuem uma aba específica para o pescoço conferem ainda maior proteção.5
Uso de óculos de sol
Os óculos de sol são um elemento importante de proteção solar.1,2,4-6,8 Protegem a pele, os olhos e as pálpebras,2,5 prevenindo o desenvolvimento de alterações como cataratas, pterígio, fotoqueratite e, possivelmente, melanomas da retina e degeneração macular relacionada com a idade.5
Os óculos devem filtrar a radiação UVA e UVB4,8 e ter preferencialmente banda lateral, para evitar a passagem da radiação pelos lados.1,2,4
Lentes mais escuras não conferem necessariamente maior proteção UV, podendo causar dilatação da pupila e maior chegada de radiação à retina. As lentes de cor laranja ou amarela proporcionam a melhor proteção face à radiação UV e azul visível.2,5
Uso de protetores solares
Os PS são produtos cosméticos destinados a ser colocados na pele com o objetivo primordial de a proteger das radiações UV, por absorção e/ou reflexão.7 Foram originalmente desenvolvidos para prevenir queimaduras cutâneas devidas a exposição solar.3 Quando aplicados corretamente, são eficazes na prevenção das queimaduras solares, mas também na redução de alguns efeitos crónicos da radiação UV, incluindo a imunossupressão, a fotocarcinogénese e o fotoenvelhecimento.6
Os PS devem ser produtos de largo espetro que protejam contra a radiação UVA e UVB;1,3,5,6 devem ainda ser hipoalergénicos e não comedogénicos.
O seu uso é necessário ao longo de todo o ano, mesmo durante as estações frias, especialmente quando a radiação UV possa ser amplificada pela altitude ou reflexão em gelo, neve ou água,5 como acontece, p. ex., durante a prática de desportos de inverno.4,5
No verão, existem algumas situações em que os indivíduos não têm a perceção do risco, como durante viagens de barco ou a praticar natação, uma vez que a brisa e a temperatura da água aliviam a sensação de calor,2,5 criando a falsa sensação que não é necessário aplicar PS.2 Na praia, a areia e a água refletem e aumentam a intensidade solar.4,5
Os fatores externos que podem condicionar a proteção conferida por um PS incluem: fenótipo cutâneo, quantidade aplicada, altitude, estação do ano, altura do dia, transpiração, exposição à água e reflexão dos raios UV na neve ou água.5
O tipo de formulação é também um fator condicionante;3,6,10 as características do veículo de um PS influenciam a sua aceitação cosmética, os padrões de aplicação e a adesão, contribuindo para a sua falha, aplicação insuficiente ou reaplicação pouco frequente.6 Por fim, a eficácia dos PS depende ainda da data de validade, da resistência à água e do intervalo de tempo que o produto esteve exposto ao sol.3
Tipos de protetores solares
Os filtros UV são substâncias contidas nos PS destinadas especificamente a refletir e/ou absorver radiação de determinados comprimentos de onda, com vista a diminuir a exposição cutânea a essas radiações.7 Podem ser de tipo químico (orgânicos) ou físico (inorgânicos),1,3,4 e muitos produtos combinam substâncias de diferentes tipos para maximizar a proteção.1
Os filtros orgânicos absorvem a radiação UV2-4,6 e convertem-na em calor.2,6 Existem muitas substâncias aprovadas, em concentrações específicas, com diferentes caraterísticas químicas.2,3 Podem causar sensação de picada ou irritação cutânea.3,6 Casos de alergia são raros, mas podem ocorrer dermatite de contato irritante ou alérgica e reações fototóxicas ou fotoalérgicas.2,3,10 A sua possível toxicidade sistémica, por absorção cutânea, é rigorosamente avaliada antes de o seu uso ser autorizado pelas entidades reguladoras.10
Os filtros físicos são substâncias de origem mineral que atuam por dispersão das radiações UV.4 As substâncias utilizadas são óxidos metálicos,3 como o óxido de zinco (ZnO) e o dióxido de titânio (TiO2).2,3,6 São fotoestáveis4,6 e o seu potencial alergénico é muito baixo,2,4,6 sendo por isso recomendados para crianças e indivíduos alérgicos.2,6
As formulações utilizavam originalmente partículas micronizadas (>200 nanómetros). Isto tornava-as cosmeticamente inaceitáveis, devido à formação de uma camada opaca na pele. O uso de nanopartículas (20–100 nanómetros) melhorou a sua aceitabilidade, pois proporcionam uma aparência transparente.2,3 Existe ainda alguma controvérsia acerca da penetração cutânea destas nanopartículas e possível geração de radicais livres.2,3,6 A vasta maioria dos estudos mostrou, contudo, que durante o uso normal em pele intacta, as nanopartículas não penetram além do estrato córneo,3,10 podendo provavelmente penetrar ao longo do folículo piloso e através de pele lesada.3 Por outro lado, a adição às formulações de dimeticone ou sílica, como revestimento das nanopartículas, impede reações fotoquímicas e consequente formação de radicais livres.3,6
Uso correto de protetores solares
A eficácia de um PS é altamente dependente da sua aplicação correta, existindo estudos que mostram, no geral, que os produtos são aplicados erraticamente e em quantidades insuficientes para proporcionar uma proteção ótima:1,2
Referências bibliográficas- Os PS devem ser aplicados em abundância e de maneira uniforme,1,4-6 15 a 30 minutos antes da exposição solar.1,3,4,6
- Para garantir a proteção indicada, é necessário aplicar pelo menos 2 mg/cm2 de PS, o que equivale a cerca de 36 g do produto, aproximadamente 6 colheres de café.7
- Para permanecerem eficazes, devem ser reaplicados frequentemente, no mínimo a cada 2 horas,1-5,8 mas também depois de cada banho, ou caso ocorra muita transpiração,1,3,4,6-8 mesmo para os produtos que indiquem ser resistentes à água.2
- O PS escolhido deve ser adequado ao fototipo cutâneo.2,5
- O uso de produtos que contêm simultaneamente PS e repelente de insetos não é recomendado, uma vez que, geralmente, os PS têm de ser reaplicados com maior frequência.5,6
- No caso de ser necessário o uso concomitante de repelente de insetos e PS, este deve ser aplicado antes do repelente.5
- Há que ter em atenção o prazo de validade e/ou o prazo de utilização do PS, não devendo ser utilizados os que apresentem alterações de aspeto ou de odor após algum tempo de uso. A embalagem deve ser bem fechada após cada utilização. Não deve ser exposta a grandes variações de temperatura, fontes de calor ou exposição direta ao sol.7
por Ana Paula Mendes
Farmacêutica do CIM
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3. Hanrahan JR. Sunscreens. Aust Prescr. 2012 [acedido a 15-06-2018]; 35(5): 148–51. Disponível em: http://www.australianprescriber.com/magazine/35/5/article/1332.pdf
4. Peris Tuser M. Un estilo de vida saludable: el sol, un placer con precaución. Centre d’Informácio de Medicaments de Catalunya. [acedido a 15-06-2018] Disponível em: http://www.cedimcat.info/index.php?option=com_content&view=article&id=69&Itemid=464&lang=es
5. Diaz JH, Nesbitt Jr LT. Sun Exposure Behavior and Protection: Recommendations for Travelers. J Travel Med. 2013 [acedido a 15-06-2018]; 20(2): 108-18. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1708-8305.2012.00667.x/epdf
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7. Recommandations de bon usage des produits de protection solaire à l’attention des utilisateurs. Agence Française de Sécurité Sanitaire des Produits de Santé, Juillet 2011 [acedido a 15-06-2018]. Disponível em: http://ansm.sante.fr/var/ansm_site/storage/original/application/7dff1bdc58ff373048961896c9c72db5.pdf
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11. Recomendação da Comissão de 22 de Setembro de 2006 relativa à eficácia e às propriedades reivindicadas dos protectores solares (2006/647/CE). Jornal Oficial da União Europeia, L 265, 26 de Setembro de 2006 [acedido a 15-06-2018]. Disponível