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Quais as precauções a acautelar no seguimento da terapêutica com sacubitril/valsartan no adulto?

  • Breves Questões Terapêuticas
26 Fevereiro 2024
Quais as precauções a acautelar no seguimento da terapêutica com sacubitril/valsartan no adulto?
 

- A toma de sacubitril/valsartan com um inibidor da enzima de conversão da angiotensina ou um antagonista dos recetores da angiotensina-II está contraindicada.

    -  A pressão arterial, a caliemia e a função renal carecem de monitorização regular durante o tratamento.

    - O farmacêutico deverá reconhecer os efeitos adversos da terapêutica e as interações medicamentosas.


      O sacubitril/valsartan, é um medicamento que resulta da combinação de um inibidor da neprilisina e de um antagonista dos recetores da angiotensina-II (ARA II).1-3 Indicado no tratamento de indivíduos adultos com insuficiência cardíaca crónica sintomática com fração de ejeção reduzida,1-6 tem demonstrado uma redução significativa da morte cardiovascular e da hospitalização por agravamento da insuficiência cardíaca,1,5 resultando numa diminuição da morbilidade e melhoria do prognóstico destes utentes.1,2,5

      A dose habitualmente recomendada de sacubitiril/valsartan é de 49/51 mg duas vezes por dia, devendo ser duplicada cada 2-4 semanas até que seja atingida a dose alvo de 97/103 mg duas vezes por dia, de acordo com o tolerado.1-6 Salienta-se que os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA), e os ARA II deverão ser previamente descontinuados.1-5 Os IECA, em particular, deverão ser suspensos 36 horas antes do início do tratamento com sacubitril/valsartan,1-6 devido ao risco de angioedema.1,3-5 A sua toma encontra-se contraindicada em indivíduos com angioedema hereditário idiopático,1-4 e antecedentes de angioedema relacionado com a toma de um IECA ou ARA-II.1,3,4,6

      A terapêutica com sacubitril/valsartan está potencialmente associada ao desenvolvimento de alguns efeitos adversos, pelo que o utente deverá ser regularmente monitorizado. Destacam-se a hipotensão,1-6 hipercaliemia,1-6 angioedema,2-4,6 e diminuição da função renal,1,3,5,6 sobretudo, na presença de desidratação e/ou uso concomitante de anti-inflamatórios não esteroides (AINES).1,4
      Relativamente à pressão arterial (PA), o tratamento não está indicado em indivíduos com valores de PA sistólica inferiores a 100 mmHg.1-5 Caso ocorra hipotensão durante o tratamento, poderá ser justificável a redução temporária ou a descontinuação da terapêutica.1,4,5 Deverá ainda ser considerado o ajuste posológico de diuréticos e/ou de outros anti-hipertensores, assim como o tratamento de outras causas de hipotensão, como a hipovolémia.1,4 É fundamental a medição regular da PA nestes utentes.1,3,5
      No que concerne aos valores de potássio, não se recomenda o uso em indivíduos com valores superiores a 5,4 mmol/L.1-5 A revisão da medicação, incluindo suplementos alimentares, deverá ser feita de forma a identificar potenciais agentes causadores de hipercaliemia e equacionar a sua redução ou descontinuação.4
      O ajuste posológico em doentes com compromisso renal ligeiro não é necessário.2,4 Caso exista insuficiência renal moderada (taxa de filtração glomerular entre 30-60 ml/min/1,73m2), o tratamento deverá ser iniciado com metade da dose inicial.1,3,4 O mesmo deverá ser aplicado na presença de insuficiência renal grave, todavia, com especial precaução, uma vez que a experiência clínica neste contexto é muito limitada.1,3,4
      Deverá ainda ser considerado um ajuste para uma dose inferior caso ocorra um agravamento significativo da função renal durante o tratamento.1,4,5 Este fármaco não está indicado em pessoas com doença renal terminal.3-5

      O sacubitril/valsartan poderá ser utilizado, com precaução, na presença de insuficiência hepática moderada, recorrendo a um ajuste de dose.1-4 Porém, está contraindicado na doença hepática grave, cirrose biliar ou colestase.2-5
      Aos primeiros sinais de angioedema, a medicação deverá ser de imediato e permanentemente suspensa.3-5
      A sua toma carece ainda de vigilância pelo risco de interações medicamentosas, devendo ser dada especial atenção ao uso concomitante com os seguintes fármacos:

          • Estatinas.1,3,4 O sacubitril/valsartan pode aumentar a exposição sistémica à atorvastatina,1-4 pelo que o seu uso concomitante com estatinas requer precaução.3,4
          • Inibidores da fosfodiesterase tipo 5. Risco de hipotensão.2-4
          • Fármacos associados a hipercaliemia. 1-4 A coadministração de diuréticos poupadores de potássio, suplementos de potássio e antagonistas mineralocorticoides pode aumentar os níveis séricos deste eletrólito, potenciando o risco de hipercaliemia e aumento da creatinina, sendo recomendada a monitorização sérica dos níveis de potássio.3,4
          • Lítio.2-4 A sua combinação não é recomendada, pelo risco de aumento da concentração deste fármaco. Caso seja necessário o uso concomitante, deverá existir uma cuidadosa monitorização dos níveis séricos de lítio.3,4
          • Furosemida1,2,4 e Metformina. 1-4 A administração concomitante com sacubitril/valsartan pode resultar na redução dos níveis séricos destes fármacos.1,2,4
          • AINES.1-4 A toma simultânea pode levar a um agravamento da função renal,1-4 sobretudo nos idosos com depleção de volume ou com compromisso pré-existente da função renal.1 Consequentemente, é recomendada a monitorização da função renal nos doentes em tratamento com AINES quando iniciam a toma ou alteram a dose de sacubitril/valsartan.4

      O sacubitril/valsartan é um medicamento que requer uma avaliação e monitorização constante do utente, pelo que é essencial uma estreita interação entre os vários profissionais de saúde. O envolvimento do farmacêutico é fundamental,6 contribuindo para a correta e segura utilização do medicamento, identificação de potenciais eventos adversos e interações medicamentosas. Deverá ainda promover a medição regular da PA, e referenciar para consulta médica sempre que se justifique.

      O utente deverá compreender os benefícios do tratamento, e o impacto no seu prognóstico a longo prazo, de forma a garantir a adesão à terapêutica,5 assim como reconhecer os principais sintomas dos efeitos secundários da sua medicação, como hipotensão, tonturas e angioedema.3,5,6


      Referências bibliográficas:

      1. Marques da Silva P, Aguiar C. Sacubitril/valsartan: An important piece in the therapeutic puzzle of heart failure. Rev Port Cardiol. 2017 Sep;36(9):655-668. English, Portuguese. doi: 10.1016/j.repc.2016.11.013.
      2. Sacubitrilo / valsartán entresto-neparvis® para la insuficiencia cardíaca. Boletín de Información Terapéutica de Navarra, fev 2017. [acedido a 20-07-23]. Disponível em: https://www.navarra.es/NR/rdonlyres/94268004-B497-478B-AF3B-B19A949528D5/377728/FET_2017_2.pdf
      3. Khakoo J, Varia M, Peplow J. Sacubitril Valsartan (Entresto®) for Treating Symptomatic Chronic Heart Failure with Reduced Ejection Fraction. Hertfordshire & West Essex Area Prescribing Committee, December 2022. [acedido a 12-04-24]. Disponível em: https://www.hweclinicalguidance.nhs.uk/all-clinical-areas-documents/download?cid=236&checksum=01161aaa0b6d1345dd8fe4e481144d84
      4. Entresto 24 mg/26 mg comprimidos revestidos por película. Resumo das Características do Medicamento (RCM). INFARMED. [acedido a 20-07-23]. Disponível em: https://extranet.infarmed.pt/INFOMED-fo/
      5. Fonseca C, Brito D, Ferreira J, Franco F, Morais J, Silva Cardoso J; Experts opinion, endorsed by the Working Group on Heart Failure of the Portuguese Society of cardiology. Sacubitril/valsartan: A practical guide. Rev Port Cardiol (Engl Ed). 2019 May;38(5):309-313. English, Portuguese. doi: 10.1016/j.repc.2018.10.008
      6. Nicolas D, Kerndt CC, Reed M. Sacubitril-Valsartan. 2022 May 26. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan–. [acedido a 20-07-23]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK507904/