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Quais os contracetivos mais adequados em mulheres com enxaqueca?

  • Breves Questões Terapêuticas
29 Dezembro 2022
Quais os contracetivos mais adequados em mulheres com enxaqueca?
 
  • Na escolha da contraceção é importante identificar a presença de enxaqueca e qual o seu tipo.
  • A enxaqueca e os contracetivos hormonais combinados aumentam de modo independente o risco de acidente vascular cerebral, agravando-se este risco quando coexistem.
  • Os contracetivos hormonais combinados devem ser evitados em mulheres com enxaqueca com aura. São de eleição os métodos hormonais só com progestagénio ou os não hormonais.

No aconselhamento sobre contraceção é importante identificar a presença de enxaqueca (com ou sem aura).1,2

Os contracetivos hormonais combinados (CHC) estão associados a aumento de risco de acidente vascular cerebral (AVC).3 A enxaqueca, particularmente a enxaqueca com aura, também está associada a risco aumentado de AVC isquémico.1,3-5 Em pessoas com enxaqueca, uma revisão sistemática mostrou um risco duas a quatro vezes maior de AVC associado ao uso de CHC.2 Muitos dos estudos não diferenciavam o tipo de enxaqueca,1 mas o risco na enxaqueca sem aura é menos claro.1,4 Teoricamente, o risco é dependente da dose de estrogénios, mas a evidência é limitada.1  Não existem estudos de boa qualidade sobre o uso de estrogénios em dose baixa.3

Na presença de enxaqueca com aura, vários organismos recomendam opções contracetivas que não envolvam o uso de estrogénios,1,3 considerando o risco inaceitável para a saúde.1,6,7 Contudo, a evidência de dano é limitada.1 Neste tipo de enxaqueca, como primeira opção, devem ser considerados os métodos contracetivos apenas com progestagénio (CP) ou os métodos não hormonais.4,5 A CP não parece conferir risco de AVC, podendo ser usada por pacientes com enxaqueca.3,7  Estas recomendações são para mulheres com enxaqueca, mas sem outros fatores de risco para AVC. Os contracetivos contendo estrogénio são contraindicados em mulheres com múltiplos fatores de risco para doença cardiovascular.8

O risco absoluto de AVC em mulheres com enxaqueca com aura que utilizam CHC é pequeno e faltam estudos específicos sobre o uso de CHC com baixa dose de estrogénio. Há quem considere que este uso deve ser individualizado, podendo ser considerado se existir uma indicação clara, como endometriose, ou se a pessoa preferir esta opção após uma discussão clara dos riscos.3

Na enxaqueca sem aura, incluindo a enxaqueca menstrual, as recomendações geralmente consideram que podem ser usados CHC se não existirem fatores de risco adicionais. As vantagens da utilização geralmente ultrapassam os riscos.1,3  São preferidas formulações com baixa dosagem de estrogénios (< 35 μg de etinilestradiol).5,8 A frequência e a gravidade das enxaquecas devem ser monitorizadas.3,8 Para mulheres com fatores de risco adicionais, o uso de contraceção não hormonal ou de CP seria a opção preferencial.5

A enxaqueca relacionada com a menstruação, um subtipo de enxaqueca sem aura, pode ser desencadeada pelas flutuações nos níveis de estrogénio. Se não responde a alterações do estilo de vida e a terapêutica sintomática, alguns autores consideram que a terapêutica hormonal com um CHC poderia ser uma opção nas mulheres que precisam de contraceção.3

Se surgirem novos sintomas consistentes com enxaqueca, deve ser considerada a interrupção do uso de CHC,2,5 especialmente na presença de aura ou se existir outro fator de risco (por ex., alcançar os 35 anos ou desenvolver hipertensão).2 Qualquer cefaleia que se inicie ou agrave durante o uso de CP deve ser avaliada.4

A decisão de iniciar ou continuar contracetivos com estrogénios em mulheres com enxaqueca envolve uma tomada de decisão partilhada, após discussão individual dos riscos e benefícios, e das alternativas.8  



Referências bibliográficas

1. Paradise SL, Landis CA, Klein DA. Evidence-Based Contraception: Common Questions and Answers. Am Fam Physician. 2022 Sep [acedido a 20-12-22]; 106(3): 251-259. Disponível em:  https://www.aafp.org/dam/AAFP/documents/journals/afp/Paradise.pdf
2. Roe AH, Bartz DA, Douglas PS. Combined estrogen-progestin contraception: Side effects and health concerns. UpToDate, topic last updated: Jun 20, 2022.
3. O´Neal MA. Estrogen-associated migraine, including menstrual migraine. UpToDate, topic last updated: May 20, 2022.
4. Sociedade Portuguesa da Contraceção (SPDC), Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG) e Sociedade Portuguesa de Medicina na Reprodução (SPMR).  Consenso sobre contraceção 2020. [acedido a 20-12-22] Disponível em:  https://www.spdc.pt/images/SPDC_Consensos_2020_27Nov_Final_web_versao_livro_digital.pdf
5. Sacco S, Merki-Feld GS, Ægidius KL, Bitzer J, Canonico M, Kurth T, et al. Hormonal contraceptives and risk of ischemic stroke in women with migraine: a consensus statement from the European Headache Federation (EHF) and the European Society of Contraception and Reproductive Health (ESC). J Headache Pain. 2017 Oct 30; 18(1): 108. doi: 10.1186/s10194-017-0815-1. Erratum in: J Headache Pain. 2018 Sep 10; 19(1): 81
6. Medical eligibility criteria for contraceptive use. 5th edition 2015. World Health Organization, 2015. http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/181468/1/9789241549158_eng.pdf
7. The UK Medical Eligibility Criteria for Contraceptive Use (UKMEC 2016). Faculty of Sexual & Reproductive Healthcare, 2016. http://ukmec.pagelizard.com/2016 
8. Ramzan M, Fisher M, Mehla S. Headache, migraine and stroke. UpToDate, topic last updated: Nov 02, 2022.


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