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Quais os cuidados necessários com a gestão da terapêutica durante a hospitalização de uma pessoa com Parkinson?

  • Breves Questões Terapêuticas
31 Janeiro 2023
Quais os cuidados necessários com a gestão da terapêutica durante a hospitalização de uma pessoa com Parkinson?
 
  • Os medicamentos para tratamento da doença de Parkinson requerem um cumprimento rigoroso do horário de administração.
  • O internamento hospitalar de indivíduos com Parkinson pode acarretar o atraso ou a omissão da medicação habitual.
  • Os farmacêuticos hospitalares, integrados em equipas multidisciplinares, podem contribuir para melhorar a gestão da terapêutica antiparkinsónica. 

As pessoas com doença de Parkinson (DP) necessitam de cumprir uma adesão rigorosa a um regime terapêutico individualizado,1-3 com intervalos de administração específicos para cada indivíduo.1 Os antiparkinsónicos são medicamentos cujo horário de administração é de importância crítica.2 Caso sejam descontinuados abruptamente, ou caso não sejam administrados no horário preconizado, pode ocorrer um aumento dos sintomas motores e não motores,1-3 nomeadamente agravamento dos tremores, da rigidez, perda do equilíbrio, confusão, agitação e dificuldades de comunicação.1

Estudos indicam que três em cada quatro indivíduos com DP que sejam hospitalizados não receberão os seus medicamentos no horário correto, ou que as doses serão totalmente omitidas.1 Os indivíduos que requeiram intervenções cirúrgicas estão particularmente em risco, porque os antiparkinsónicos podem ser inadequadamente omitidos devido à necessidade de jejum pré-operatório ou, por outro lado, devido à administração de medicamentos contraindicados, como anestésicos ou antagonistas dopaminérgicos centrais,1,2 (ex. metoclopramida, haloperidol).2

A alteração do regime terapêutico durante o internamento e o consequente agravamento da sintomatologia motora e cognitiva pode resultar em afetação da mobilidade, da deglutição e da fala, aumentando o risco de aspiração, quedas ou estado confusional.3 Além disso, a interrupção de alguns antiparkinsónicos pode originar complicações mais graves, como uma síndrome semelhante à síndrome maligna dos neurolépticos, que se apresenta com pirexia, alterações do estado mental, rigidez muscular e disfunções autonómicas, e que pode ser fatal.1-3 Tudo isto acarreta um importante risco de deterioração funcional do indivíduo,2,3 bem como de maior duração do internamento.1,3 É vital que os profissionais de saúde conheçam estas complicações de modo a reduzir o mais possível o seu risco,3 garantindo a correta administração da medicação habitual, bem como a identificação precoce dos sintomas e rápida instauração do tratamento.1,3

Recomendações

A toma de fármacos antiparkinsónicos não pode ser interrompida de forma abrupta e a sua administração deve ocorrer no horário que foi estabelecido para cada indivíduo.1-3

A reconciliação da terapêutica é fundamental para assegurar uma correta prescrição e o fornecimento e administração atempados da medicação.2 Deve ser definido um processo que promova uma rápida reconciliação,1,2 no intervalo de 24 horas após o internamento,2 com o objetivo de obter uma lista exata da medicação tomada em ambulatório, suas doses e horário de administração.1-3

Promover o fornecimento atempado dos antiparkinsónicos1-3 tentando, na medida do possível, assegurar a existência na instituição dos fármacos mais comuns,1 e que estes sejam solicitados aos serviços farmacêuticos de forma prioritária.2

Estabelecer um procedimento para a implementação do esquema individualizado de administração e sua correta comunicação, de modo que sejam cumpridos os horários específicos da toma habitual.1,2

Há que evitar a utilização de fármacos contraindicados,1,2 selecionando alternativas que sejam mais seguras para indivíduos com DP. Implementar alertas nos sistemas de prescrição.1


Caso o internamento seja motivado por uma intervenção cirúrgica é fundamental um planeamento prévio ou, em casos urgentes, um acompanhamento especializado.2 Alguns aspetos a considerar incluem:

  • A medicação antiparkinsónica deve ser administrada o mais perto possível do horário individualizado, no período pré e pós-operatório.1,3
  • Em caso de cirurgia eletiva, há que manter a medicação habitual até ao período de jejum preconizado (seis horas prévias à cirurgia).3 Contudo, a toma pode ser efetuada imediatamente antes da cirurgia,2,3 com uma pequena quantidade de água, mesmo que haja obrigatoriedade de jejum.2
  • Em contexto anestésico ou pós-operatório, evitar fármacos associados a agravamento sintomático.1,2
  • Reiniciar a medicação o mais precocemente possível após a cirurgia. Caso não seja possível retomar rapidamente a via oral, há que ponderar a utilização de vias de administração alternativas,1-3 como a subcutânea,3 a transdérmica, ou a colocação de uma sonda nasogástrica,2,3 o que requer o apoio de especialistas.1,2
  • Estar alerta para o surgimento de complicações,1,2 como estado confusional.2

A gestão da terapêutica dos indivíduos com DP hospitalizados é frequentemente comprometida por falta de conhecimento,1,2  por ausência de sistemas e procedimentos que permitam prevenir atrasos ou omissões 2 e pela falta de equipas multidisciplinares.3 É fundamental educar os profissionais de saúde acerca da importância do cumprimento do horário de administração dos antiparkinsónicos, para a identificação dos sintomas e para o risco de quedas. A implementação de uma consulta farmacêutica automática aquando do internamento de pessoas com DP pode ajudar à atempada reconciliação da terapêutica.1 Os farmacêuticos hospitalares poderão também melhorar a comunicação na transição de cuidados, informando o utente e os profissionais de saúde dos cuidados primários sobre alterações no regime terapêutico. A partilha com os farmacêuticos comunitários pode ser particularmente importante caso o utente utilize um dispositivo de preparação individualizada da medicação.2



Referências bibliográficas

1. Delayed Administration and Contraindicated Drugs Place Hospitalized Parkinson’s Disease Patients at Risk. Institute for Safe Medication Practices. March 12, 2015 [acedido a 11-01-2023]. Disponível em: https://www.ismp.org/resources/delayed-administration-and-contraindicated-drugs-place-hospitalized-parkinsons-disease
2. Mawaz M, Close O. Considerations for the inpatient management of Parkinson’s disease. The Pharmaceutical Journal. March 2020; 304(7935): DOI:10.1211/PJ.2020.20207802.
3. 
van Eendenburg C. Paciente ingresado con enfermedad de Parkinson. Boletín de Prevención de Errores de Medicación. 2021 [acedido a 11-01-2023]; 19(2): 1-5. Disponível em: https://scientiasalut.gencat.cat/bitstream/handle/11351/6756/butll_prev_errors_medicacio_catalunya_2021_19_02_cas.pdf?sequence=2&isAllowed=y


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