A hiponatremia é definida por uma concentração plasmática de sódio inferior a 135 mmol/L,1,2 e representa a alteração eletrolítica mais frequente na prática clínica,2-4 apresentando um impacto negativo relevante na morbilidade e mortalidade, sobretudo na população idosa.2,3 Os primeiros sintomas incluem náuseas e vómitos, seguidos de sinais neurológicos como cefaleias, letargia, cãibras musculares, desorientação e agitação, podendo em casos graves desencadear convulsões e coma.2,4

A hiponatremia induzida por medicamentos é uma condição clínica frequentemente subdiagnosticada.2 Os antidepressores são uma classe de fármacos reconhecidamente associada ao desenvolvimento deste efeito adverso no idoso.1-4 Acredita-se que a hiponatremia ocorra através da síndrome de secreção inadequada da hormona antidiurética (ADH).1-4 Embora o seu mecanismo de produção seja desconhecido, é sugerido um aumento da libertação desta hormona, ou da potenciação da sua ação.2 Estudos em animais apontam para o possível papel da serotonina na síntese e libertação da ADH, pelo que se acredita que a estimulação serotoninérgica induzida pelos antidepressores com esta ação, como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), possa estar diretamente associada ao desenvolvimento desta condição clínica.2,4

Estima-se que o risco de hiponatremia em doentes tratados com antidepressores seja mais do dobro do que nos não usuários.2 A idade avançada, o tratamento concomitante com antidiuréticos, o sexo feminino, e níveis prévios de sódio baixos, constituem fatores de risco importantes a ter em consideração para o desenvolvimento desta alteração eletrolítica.2,4

No que concerne ao risco de hiponatremia associado à classe do antidepressor, este parece ser inferior com os antidepressores tricíclicos e afins, como a mirtazapina e a mianserina,1,3 quando comparados com os ISRS e os inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina, como a venlafaxina.1,3,4 Relativamente a outros antidepressores, como o bupropiom e os inibidores da monoamina oxidase, a informação disponível ainda é escassa na avaliação deste risco.4 

O tempo médio sugerido para o aparecimento da hiponatremia associada ao uso de antidepressores é de cerca de quinze dias,1,2 sendo que a maioria dos casos ocorrem durante o primeiro mês de tratamento.1-3 Este risco parece diminuir com o passar do tempo.3 A grande parte dos doentes recuperam algumas semanas após a retirada do medicamento.2,4 O reaparecimento da hiponatremia, em alguns casos após reintrodução do mesmo ou de outro ISRS, corrobora que se trata de um efeito adverso desta classe de fármacos.2

Os profissionais de saúde deverão estar sensibilizados para o risco de hiponatremia associado ao uso de determinados antidepressores em pessoas idosas com fatores de risco associados. A restrição ou moderação preventiva de fluidos,3 e a monitorização dos valores séricos de sódio nas primeiras semanas de tratamento deverão ser consideradas.2,3,4 Para os doentes hospitalizados com hiponatremia severa, torna-se imprescindível uma avaliação detalhada do histórico de consumo de antidepressores, particularmente a duração da terapêutica com um novo antidepressor. Deverá ser equacionada a possibilidade de interrupção do fármaco, e caso esta não seja possível, avaliar a possibilidade de alterar para uma classe potencialmente mais segura.3,4

1. Leth-Møller KB, Hansen AH, Torstensson M, Andersen SE, Ødum L, Gislasson G, Torp-Pedersen C, Holm EA. Antidepressants and the risk of hyponatremia: a Danish register-based population study. BMJ Open. 2016 May 18;6(5):e011200. doi: 10.1136/bmjopen-2016-011200.
2. Alerta de farmacovigilancia: hiponatremia y SIADH por medicamentos. Centro Andaluz de Farmacovigilancia. 2016;54:18-27. [acedido a 04-04-23]. Disponível em: https://www.cafv.es/wp-content/uploads/2018/04/b54.pdf
3. Lien YH. Antidepressants and Hyponatremia. Am J Med. 2018 Jan;131(1):7-8. doi: 10.1016/j.amjmed.2017.09.002. 
4. De Picker L, Van Den Eede F, Dumont G, Moorkens G, Sabbe BG. Antidepressants and the risk of hyponatremia: a class-by-class review of literature. Psychosomatics. 2014 Nov-Dec;55(6):536-47. doi: 10.1016/j.psym.2014.01.010.

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