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Que cuidados observar na terapêutica com digoxina?

  • Breves Questões Terapêuticas
24 Outubro 2023
Que cuidados observar na terapêutica com digoxina?


 

- A digoxina possui uma margem terapêutica estreita, com risco de toxicidade, pelo que o seu uso requer vigilância e eventuais ajustes de dose. 

    - A digoxina é considerada um medicamento de alto risco, tendo sido relatados erros de medicação com consequências graves. 

    - Os farmacêuticos devem assegurar uma informação adequada na dispensa e um cuidadoso acompanhamento dos utentes.




      A digoxina é um glicosídeo cardíaco usado atualmente no tratamento da insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida e da fibrilação auricular.1-3 Por tratar-se de um medicamento com margem terapêutica estreita, pequenas variações da dose podem fazer passar facilmente da eficácia à toxicidade,2 sendo a monitorização uma parte importante na sua utilização.4 A dose de digoxina deve ser ajustada individualmente.1

      A toxicidade por digoxina é frequentemente acidental e ocorre devido à dosagem inadequada, falta de monitorização e de reconhecimento dos seus sintomas. Os sinais clínicos de toxicidade podem incluir distúrbios visuais (por ex., visão turva, alterações na perceção das cores, manchas na visão),4 sintomas cardíacos (disritmia), gastrointestinais (náuseas, vómitos, dor abdominal, diarreia, anorexia) e neurológicos (confusão, fraqueza, delírio).1,4,5

      As pessoas que relatam efeitos colaterais devem ser imediatamente encaminhadas para avaliação adicional. Esta envolve uma história clínica completa e, sempre que possível, análise dos níveis de ureia, eletrólitos e digoxina sérica. As pessoas com suspeita de toxicidade por digoxina devem realizar um ecocardiograma.4

      Os níveis séricos de digoxina podem auxiliar, mas não se correlacionam de forma consistente com as manifestações clínicas.1 A concentração sérica de digoxina recomendada varia dependendo da indicação.5 Os doentes apresentam risco aumentado de toxicidade quando as concentrações séricas de digoxina são superiores a 2 ng/mL.1,4,6 As superiores a 3 ng/mL são sugestivas de toxicidade.4,5 Contudo, esta também pode ocorrer quando a concentração sérica de digoxina está no intervalo terapêutico,1,5,6 especialmente na presença de distúrbios eletrolíticos (por ex., hipocaliemia).1

      O tratamento imediato da toxicidade é essencial.4 Manifestações graves requerem tratamento especializado e urgente. Fragmentos de anticorpos específicos para digoxina são usados nas sobredosagens com risco de vida.5


      Fatores que aumentam a suscetibilidade aos efeitos tóxicos da digoxina:

          • Insuficiência renal. Cerca de 70-80% da digoxina é excretada na urina, prolongando-se a sua semivida em pessoas com doença renal.1,3 Nesta também diminui o volume de distribuição do fármaco, aumentando os níveis plasmáticos.3 A dose deve ser ajustada e pode ser necessária uma monitorização mais frequente.5 
          • Idade avançada.1,4,5,6 Pode ser necessária monitorização mais frequente.5 
          • Comorbilidades (por ex., doença da tiroide, doença cardiovascular, amiloidose).1 Pode ser necessário modificar a dose em caso de alteração da função da tiroide.5
          • Desequilíbrios eletrolíticos (por ex.: hipocaliemia, hipomagnesemia e hipercalcemia). Devem ser corrigidos.1,5,6
          • Interações com medicamentos: antiarrítmicos (por ex., quinidina, verapamilo, amiodarona) e macrólidos (por ex., azitromicina, claritromicina e eritromicina) podem aumentar os níveis séricos de digoxina; aminoglicosídeos (por ex., amicacina, gentamicina) podem aumentar os níveis séricos pelo seu efeito na função renal; colestiramina e antiácidos podem diminuir a absorção intestinal; indutores da glicoproteína P (por ex., fenitoína, rifampicina) podem diminuir os níveis de digoxina.3,4 Alguns medicamentos estão associados a anomalias eletrolíticas (por ex., diuréticos).1 Muitos outros fármacos interagem com a digoxina.6 Em pessoas que tomam medicamentos que interagem com a digoxina as doses devem ser  ajustadas de acordo com a resposta.4
          • Doença aguda que possa causar desidratação ou insuficiência renal aguda.1

      A monitorização dos níveis séricos estaria indicada em caso de suspeita de toxicidade e se existirem alterações clínicas (por ex., deterioração da função renal, alteração eletrolítica, doença da tiroide, modificação da dose ou adição de novos medicamentos). A monitorização de rotina geralmente não é recomendada em pessoas com estabilidade terapêutica.4,5

      A digoxina é considerada um medicamento de alto risco, tendo sido relatados com frequência erros de medicação com consequências graves. Ocorrem erros na prescrição e acompanhamento dos tratamentos por não ter sido considerado o estado da função renal ou as concentrações de digoxina, ou por prescrição de medicamentos que podem interagir sem ajuste na dose. Podem também ocorrer erros quando não é realizada uma reconciliação adequada da medicação ou por falta de informação aos doentes ou cuidadores. 

      Para prevenir os erros de medicação associados ao uso da digoxina é necessário: implementar práticas seguras na prescrição e acompanhamento do tratamento com digoxina; assegurar uma conciliação medicamentosa cuidadosa nas transições de cuidados e proporcionar informação verbal e escrita aos doentes sobre o seu tratamento.2


      Referências bibliográficas

      1.  Digoxin toxicity – don't break my heart. Prescriber Update. 2023; 44(1): 11-13. [acedido a 29-04-23] Disponível em:https://www.medsafe.govt.nz/profs/PUArticles/March2023/Digoxin-toxicity-don't-break-my-heart.html
      2.  Recomendaciones para la prevención de errores de medicación. ISMP-España. 2017. Boletín nº 45. [acedido a 29-04-23] Disponível em: http://www.ismp-espana.org/ficheros/Boletin%2045%20%28Diciembre%202017%29.pdf
      3. Giardina EG. Treatment with digoxin: Initial dosing, monitoring, and dose modification. UpToDate®, topic last updated: Aug 16, 2022. https://www.uptodate.com/contents/treatment-with-digoxin-initial-dosing-monitoring-and-dose-modification
      4. Patel K, Wright P. Pharmaceutical Journal. Digoxin monitoring and toxicity management. The Pharmaceutical Journal, PJ, January 2023, Vol 310, No 7969; 310(7969): DOI:10.1211/PJ.2022.1.170827
      5. Digoxin monitoring. Specialist Pharmacy Service. 14 July 2021. [acedido a 29-04-23] Disponível em: https://www.sps.nhs.uk/monitorings/digoxin-monitoring/
      6. Digoxin: Drug information. UpToDate®. Copyright 1978-2023 Lexicomp, Inc.

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