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Que medicamentos podem diminuir o limiar convulsivo?
- Breves Questões Terapêuticas
- Alguns medicamentos podem alterar o equilíbrio excitatório/inibitório dos neurotransmissores, resultando em convulsões. - O farmacêutico deverá identificar estes fármacos e estar alerta para os seus riscos. |
A convulsão é definida como um fenómeno paroxístico,1,2 que ocorre quando existe um excesso de atividade excitatória relativamente à atividade inibitória no cérebro.1 O glutamato e o ácido gama-aminobutírico (GABA) são, respetivamente, os principais neurotransmissores excitatórios e inibitórios do sistema nervoso central (SNC).1,3 O glutamato atua via recetores N-metil-D-aspartato, ácido alfa-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolproprionico e recetores de cainato, causando um influxo de iões de sódio e cálcio, favorecendo a despolarização. Por sua vez o GABA atua, principalmente, através dos recetores GABAA, causando um influxo de iões de cloreto, induzindo a hiperpolarização.1,3
O limiar convulsivo descreve a intensidade mínima de um estímulo necessária para induzir uma convulsão.1 Alguns medicamentos podem alterar o equilíbrio excitatório/inibitório dos neurotransmissores, diminuindo este limiar.1-3 Esta capacidade depende de fatores como os seus efeitos na neurotransmissão, a concentração de fármaco que alcança o cérebro, e a suscetibilidade de cada pessoa,1,3 incluindo a idade,2,3 função renal e hepática,2,3 história de convulsões, anormalidades estruturais ou funcionais do cérebro, 1,2 e o uso concomitante de outros medicamentos.1,2
São mencionados alguns fármacos
com este efeito (lista não exaustiva):
Antibióticos1-5
Os beta-lactâmicos, como as penicilinas, cefalosporinas e carbapenemos,
interferem de forma dose-dependente com o efeito inibitório do GABA, através do
seu anel beta-lactâmico que atua como um antagonista competitivo nos recetores
GABAA.3,4 As convulsões por penicilinas e
cefalosporinas estão associadas a doses elevadas ou a situações de
insuficiência renal, uma vez que a sua capacidade de penetração no SNC é
relativamente baixa.1 Os carbapenemos penetram mais
facilmente no SNC, existindo um risco aumentado para convulsões.1 O imipenem
tem sido o carbapenemo mais frequentemente associado a convulsões.4 Adicionalmente,
sobretudo com o meropenem, existe uma interação direta com o valproato
de sódio, levando a uma diminuição consistente e substancial da sua
concentração, o que pode precipitar convulsões.1,4
As fluoroquinolonas
conseguem penetrar no SNC, interagindo com os recetores GABAB, e
ativando o recetor N-metil-D aspartato, o que conduz à diminuição do limiar
convulsivo.3,4 As convulsões, apesar de raras, foram reportadas,
particularmente com a ciprofloxacina, em indivíduos com fatores de
suscetibilidade.1,4 A administração de quinolonas em utentes
tratados com fenitoína pode diminuir a sua concentração e desencadear
convulsões.4
Antimaláricos
A mefloquina
e a cloroquina podem desencadear convulsões em indivíduos com e sem
epilepsia.1,2 O seu mecanismo de ação é incerto, contudo, a
cloroquina parece inibir a atividade da enzima glutamato desidrogenase,
reduzindo a concentração de GABA.2
Analgésicos opioides1-5
O tramadol tem sido associado a convulsões quando administrado tanto em
sobredosagem, como em doses terapêuticas. O seu efeito indutor poderá dever-se
a uma inibição das vias GABAérgicas ou ativação do recetor H1 da
histamina.1 A petidina também tem demonstrado um efeito
pró-convulsivante,1,2 através da redução da libertação sináptica de
GABA.3
Xantinas1,2,5
A
teofilina e a aminofilina, causam uma diminuição significativa do
limiar convulsivo, podendo originar convulsões em indivíduos com ou sem
epilepsia. O mecanismo foi atribuído ao antagonismo do recetor de adenosina A1.1,2
Antipsicóticos1,2,5
A clozapina apresenta um efeito marcado, dependente da dose, no limiar
convulsivo,1-3 através da libertação de D-serina, um co-agonista dos
recetores N-metil-D aspartato.3 Doentes com antecedentes de
epilepsia devem ser rigorosamente observados durante a terapêutica com
clozapina.7
Antidepressores1,3,6
O bupropiom tem um reconhecido efeito dependente da dose no risco
convulsivo,1,6 devendo ser utilizado com precaução, em doses baixas,
e na formulação de libertação modificada, de forma a evitar picos de
concentração sérica,6 estando contraindicado em utentes com doença
convulsiva atual ou qualquer antecedente de convulsões.8 A clomipramina
foi também associada a uma diminuição do limiar convulsivo, pelo que deverá ser
utilizada com extrema precaução em pessoas com fatores de risco.1,6
Antidiabéticos1,5
Apesar de não contribuírem diretamente para a diminuição do limiar convulsivo,
salienta-se que estes fármacos poderão ter um efeito indireto ao induzirem
hipoglicemias.
Muitos medicamentos podem afetar
adversamente o limiar convulsivo, dependendo de fatores como a concentração de
fármaco que atinge o cérebro e a suscetibilidade de cada individuo aos seus
efeitos.1 A sua identificação apresenta-se como uma tarefa onde o
farmacêutico poderá ter um elevado impacto,5 sobretudo, na gestão
dos utentes com epilepsia ou outros fatores de risco para convulsões, onde
deverá existir uma elevada precaução no uso destes medicamentos.1,2,5
O prescritor deverá ser alertado para o risco convulsivo, a fim de avaliar a
possibilidade de alteração para outra medicação potencialmente mais segura.1,5
Referências bibliográficas
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